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CNA defende criação de fundo garantidor para evitar crise em safras futuras

CNA defende criação de fundo garantidor para evitar crise em safras futuras


Criação de um fundo para garantir recursos para a agricultura a partir safra 2009/2010 e destinação de R$ 4 bilhões para assegurar a comercialização da produção da safra atual 2008/2009. Estas foram as ações defendidas pela presidente eleita da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu, para que o agricultor enfrente a crise e possa custear e vender sua lavoura, mantendo a produção no mesmo patamar dos anos anteriores. Desta forma, completou, o agricultor terá condições de recuperar a rentabilidade afetada em anos anteriores e reduzir a inadimplência de operações de crédito rural contratadas e não honradas. "O quadro hoje é preocupante e a população sentirá as conseqüências desta crise quando o campo não conseguir fornecer safras recordes e faltar alimento na mesa do brasileiro", alertou a senadora. Quanto ao fundo para financiar a próxima safra, Kátia Abreu informou que será discutido por um grupo de trabalho a ser formado por entidades representantes dos diversos segmentos do setor agropecuário. A senadora explicou que o objetivo é apresentar a proposta ao Governo no início de 2009. "Não temos muitos detalhes agora, mas vamos negociar junto ao Executivo", frisou. Um dos principais motivos que levou a senadora a defender esta idéia é a redução dos financiamentos feitos pelas tradings, provocada principalmente pelo alto risco de inadimplência dos agricultores. "Cerca de 80% das tradings deixaram de financiar o setor em razão do risco de inadimplência", salientou. Esta classificação de risco está prevista na Resolução 2682 do Banco Central, e é um dos principais critérios usados pelos bancos para contratação de empréstimos. É dividia em nove níveis: AA (mínimo) a H (máximo). Os níveis considerados baixos, que não impedem o mutuário de tomar empréstimos são AA, A, B e C, sendo o restante considerado de alto risco. Segundo dados do Banco do Brasil, apresentados pela senadora, o percentual de produtores cujos contratos têm risco elevado passou de 3%, em 2003, para 14,5%, em 2008. "Trata-se de um subprime no campo", definiu Kátia Abreu, em referência ao termo utilizado para investimentos de alto risco feitos no mercado financeiro. Quanto aos R$ 4 bilhões para comercializar a atual safra, Kátia Abreu disse que esta quantia é resultado do acréscimo de R$ 2,5 bilhões ao R$ 1,5 bilhão previsto no Plano Agrícola e Pecuário, anunciado em julho. A Comissão de Agricultura e Reforma Agrária do Senado (CRA) apresentou emenda ao Orçamento da União de 2009 para incluir os R$ 2,5 bilhões, recusada pelo Comitê de Admissibilidade de Emendas, instalado para analisar as emendas ao texto orçamentário. Kátia Abreu apresentou recurso para incluir novamente a emenda da CRA. Na avaliação da presidente eleita da CNA, a comercialização da safra tem sido um dos principais problemas enfrentados pelos produtores na atual safra. No caso da soja, ela disse que, em anos anteriores, 45% da produção eram vendidas antecipadamente. No entanto, neste ano, apenas 18% da lavoura foi comercializada. Disse, ainda, que há 13 milhões de toneladas de milho sobrando no mercado, o equivalente a uma safrinha, o que tem ocasionado redução no preço da saca de 60 quilos do cereal, que hoje está em R$ 20,50, enquanto o custo de produção está em R$ 21,00 por saca. Afirmou, também, que a cultura do trigo vive situação semelhante à do milho. Acrescentou que a cana sofreu redução de 17% no preço, o que ocasionou a inadimplência das usinas junto aos fornecedores. Outro ponto de preocupação abordado por Kátia Abreu foi o atraso no pagamento das parcelas de investimento que venceram em 2008, que tem gerado ações de busca e apreensão de máquinas e equipamentos pelos bancos, nos últimos dias. Os casos mais críticos estão no Centro-Oeste e no Tocantins. Para a senadora, esta inadimplência é atribuída, principalmente, às diferentes taxas de juros nos financiamentos, que geraram encargo médio de 21% na região Centro-Oeste. Dos R$ 65 bilhões destinados ao custeio e à comercialização da safra 2008/2009, apenas R$ 11 bilhões têm juros controlados de 6,75%.